"Antes,
eles se reuniam debaixo da árvore. Com a luz, puderam sentar nas
cadeiras, dentro de uma sala de aula", diz o indígena Adamilson
Ferreira, 49, tuxaua da aldeia Cuia, da etnia mura, no Município de
Autazes, referindo-se aos 119 alunos do Programa de Educação Jovens e
Adultos (PEJA).
Cuia foi a primeira
comunidade indígena daquela cidade a receber fornecimento de energia por
meio do programa federal Luz Para Todos, há quatro anos. Hoje, quase
90% da comunidade composta por aproximadamente 200 famílias
(distribuídas em 70 residências) é atendida com o programa.
Outras
quatro aldeias de Autazes, também compostas por indígenas do povo mura,
foram atendidas nos anos seguintes, aposentando de vez a antiga
lamparina.
A chegada da energia na
comunidade Cuia trouxe benefícios e mudou hábitos e costumes que,
outrora, eram característicos de áreas rurais. Se a mudança nos hábitos
foi para melhor ou para pior, cabe a cada família avaliar.
“A
gente passou a dormir mais tarde. Antes, quando dava sete da noite já
estava todo mundo na rede, dormindo. Agora, o pessoal vai se deitar lá
pelas 10 da noite e alguns se recolhem só à meia-noite. Dá para ficar
assistindo novela até mais tarde. Ou então, os meninos colocam DVD para
assistir”, diz Nonata Cunha, 65, em cuja casa de três cômodos vivem 13
pessoas. Adamilson Ferreira, mais conhecido como Sabá, cujo acesso a
casa é por meio de uma canoa e a distância é de cinco minutos, conseguiu
comprar um aparelho de televisão, onde sua esposa e muitos de seus sete
filhos pregam os olhos no momento da novela.
Uma
outra parte de sua família (como os três garotos que brincavam jogando
bilhar em um barzinho) prefere ficar se divertindo até um pouco mais
tarde.
“Não sei por que eles ainda
estão aqui acordados até essa hora”, indagou Sabá, quando viu os meninos
“na rua” às 21h, acompanhado da reportagem.
José
Roberto Maia, 32, possui um notebook também cobiçado por seus dois
filhos pequenos. A mulher de José Roberto, Janeide Mendonça da Silva,
28, diz que a máquina de lavar roupa acabou com o cansaço que sentia
quando vinha da roça.
“A gente vai para a roça e quer descansar. Mas sempre tem um monte de roupa para lavar”, diz ela.
Sem atendimento médico
O professor Júlio César Gomes da Silva, aluno de Licenciatura Indígena, curso ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Autazes, ministra aulas para uma turma noturna.
O professor Júlio César Gomes da Silva, aluno de Licenciatura Indígena, curso ministrado pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), em Autazes, ministra aulas para uma turma noturna.
Júlio
nasceu em outra aldeia mura, Murutinga, mas se transferiu para Cuia
desde que passou a dar aulas. Ele conta que, com a energia, os alunos
passaram a aprender com mais facilidade.
A
luz elétrica na aldeia Cuia, contudo, não é sinônimo de uma cidadania
digna. O posto de saúde não tem medicamentos suficientes. Não há
atendimento médico, sequer a presença de uma enfermeira.
Adamilson Ferreira também se mostra preocupado com a ausência do programa Luz Para Todos em outras comunidades indígenas.
Entre comunidades vizinhas, apenas a aldeia São Félix também tem fornecimento de energia.
“Em Guapenu chegou só uma parte. Está ocorrendo um problema porque lá não estão se entendendo”, comentou Ferreira.
Energia para mais cinco aldeias
A Amazonas Energia planeja expandir o Luz para Todos para mais cinco aldeias em 2012, segundo Radyr Gomes de Oliveira, diretor de geração e operação para o interior do Estado da concessionária.
A Amazonas Energia planeja expandir o Luz para Todos para mais cinco aldeias em 2012, segundo Radyr Gomes de Oliveira, diretor de geração e operação para o interior do Estado da concessionária.
As
comunidades que deverão receber luz elétrica são Ponciano, Trincheira,
Capivara (no Paraná do Mamuri), Jauari (dentro de uma comunidade maior, a
Santo Antônio) e o restante de Guapenu. No total, cerca de 300 famílias
serão atendidas neste ano de 2012.
“As
ligações previstas dão prioridades para assentamentos, comunidades
indígenas e quilombolas. Em Autazes, Guapenu será atendida a parte do
lago, onde está faltando. Estão previstas três mil ligações para aquela
área, entre ribeirinhos e indígenas”, contou.
Conforme
Oliveira, em Autazes o Luz Para Todos atualmente atende quase 300
famílias indígenas das comunidades São Félix, Guapenu (divididas em
diferentes aldeias), Murutinga, Caranaí e Cuia.
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