Como as redes sociais, os serviços de trocas de mensagens e os sites especializados estão sendo usados pelos brasileiros em busca de casos extraconjugais
NA REDE
As mulheres se contentam em trair apenas no ambiente online.
Já os homens desejam levar a relação virtual para o encontro tradicional
No canto esquerdo da página do Facebook,
uma foto que em nada lembra seu rosto, acompanhada de um nome que também
não corresponde ao de sua identidade. No espaço reservado aos amigos,
apenas um perfil feminino – tão falso quanto o dele. Ali, protegidos do
mundo real, J. e M., 39 anos, criaram um ambiente reservado onde podem
conversar, trocar intimidades e marcar encontros. Tanta discrição tem
sua razão: ambos são casados e traem seus cônjuges. Namorados na
adolescência, o casal se reencontrou após 20 anos de absoluto
distanciamento. O cenário da reaproximação foi o próprio Facebook, mas,
na ocasião, os dois usavam seus perfis verdadeiros. Quem deu o primeiro
passo foi J., que, frustrado em seu relacionamento, utilizava a rede
para dar umas escapadas. “Me encontrei com umas três mulheres pelo
Facebook até reencontrar M.”, diz. Há seis meses a reaproximação virtual
se transformou em saídas no mundo real, com direito a planos de
separação dos atuais parceiros e projetos de casamento em breve. Sem
medos, afinal, J. acredita que M. não voltará ao computador em busca de
outro caso. “Acho que nós temos maturidade suficiente para não repetir
os erros que nos levaram a essa situação”, diz.
J. e M. são personagens dessa nova trama em que a rede serve de pano de fundo para repaginar velhos comportamentos. Afinal, histórias de infidelidade sempre permearam os relacionamentos amorosos. O que muda são as ferramentas para que isso ocorra, cada vez mais abundantes e sofisticadas graças à internet. O mundo virtual tem se mostrado tão bom parceiro aos infiéis que muita gente, como a americana Katherine Hertlein, autora do “Manual para o Tratamento Clínico da Infidelidade” já considera essa a era da cybertraição. “Quanto mais as tecnologias de comunicação se desenvolvem, mais a internet é usada para a traição”, disse à ISTOÉ. Se o advento da telefonia móvel criou um canal direto entre os amantes, evitando os constrangimentos anteriores de ter de ligar para o telefone de casa ou do trabalho para marcar os encontros extraconjugais, a internet dá um passo além. Serviços de troca de mensagem, como MSN, Skype e Gtalk ajudam o contato. Redes sociais, como o Facebook, permitem garimpar antigos e novos conhecidos. E ainda há os sites especializados. “As redes sociais mudaram drasticamente o modo como nos conectamos com as pessoas”, disse à ISTOÉ a pesquisadora Millie Darvell, da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália. “Ferramentas como o Facebook aumentam as oportunidades para conhecer e saber mais sobre os outros, o que pode ajudar na hora da traição.”
Não existe conta certa que mostre qual a população de casados dispostos a buscar pela internet um parceiro para trair. Mas eles são muitos, garantem os especialistas. “Posso dizer que boa parte dos usuários do meu site escondem do parceiro que estão cadastrados no serviço”, afirma Carlos Júnior Leal, dono do SexocomCafé, um dos pioneiros no Brasil em sites de encontros liberais, com mais de 250 mil usuários. Em uma das primeiras publicações a abordar o tema, o livro “Infidelidade na Internet” (tradução livre), de 2001, as autoras Marlene Maheu e Rona Subotnik estimavam que 20% dos internautas usassem o mundo virtual para algum fim sexual, sendo que a maior parte (dois terços dessas pessoas) era casada ou comprometida. É preciso, porém, lembrar que à época as ferramentas mais populares entre os traidores contemporâneos ainda não existiam. O Facebook surgiu em 2004 e as redes sociais para casados são ainda mais recentes – os grandes sites de traição vieram para o Brasil somente em 2011. Para completar, na última década o número de usuários da internet cresceu 399%. Mais ferramentas e mais gente na rede, essa é a realidade de hoje quando comparada àquela de 2001. “O desejo de trair já existia, as redes sociais apenas tornam isso mais fácil”, disse à ISTOÉ Rona Subotnik.
J. e M. são personagens dessa nova trama em que a rede serve de pano de fundo para repaginar velhos comportamentos. Afinal, histórias de infidelidade sempre permearam os relacionamentos amorosos. O que muda são as ferramentas para que isso ocorra, cada vez mais abundantes e sofisticadas graças à internet. O mundo virtual tem se mostrado tão bom parceiro aos infiéis que muita gente, como a americana Katherine Hertlein, autora do “Manual para o Tratamento Clínico da Infidelidade” já considera essa a era da cybertraição. “Quanto mais as tecnologias de comunicação se desenvolvem, mais a internet é usada para a traição”, disse à ISTOÉ. Se o advento da telefonia móvel criou um canal direto entre os amantes, evitando os constrangimentos anteriores de ter de ligar para o telefone de casa ou do trabalho para marcar os encontros extraconjugais, a internet dá um passo além. Serviços de troca de mensagem, como MSN, Skype e Gtalk ajudam o contato. Redes sociais, como o Facebook, permitem garimpar antigos e novos conhecidos. E ainda há os sites especializados. “As redes sociais mudaram drasticamente o modo como nos conectamos com as pessoas”, disse à ISTOÉ a pesquisadora Millie Darvell, da Escola de Psicologia da Universidade de Queensland, na Austrália. “Ferramentas como o Facebook aumentam as oportunidades para conhecer e saber mais sobre os outros, o que pode ajudar na hora da traição.”
Não existe conta certa que mostre qual a população de casados dispostos a buscar pela internet um parceiro para trair. Mas eles são muitos, garantem os especialistas. “Posso dizer que boa parte dos usuários do meu site escondem do parceiro que estão cadastrados no serviço”, afirma Carlos Júnior Leal, dono do SexocomCafé, um dos pioneiros no Brasil em sites de encontros liberais, com mais de 250 mil usuários. Em uma das primeiras publicações a abordar o tema, o livro “Infidelidade na Internet” (tradução livre), de 2001, as autoras Marlene Maheu e Rona Subotnik estimavam que 20% dos internautas usassem o mundo virtual para algum fim sexual, sendo que a maior parte (dois terços dessas pessoas) era casada ou comprometida. É preciso, porém, lembrar que à época as ferramentas mais populares entre os traidores contemporâneos ainda não existiam. O Facebook surgiu em 2004 e as redes sociais para casados são ainda mais recentes – os grandes sites de traição vieram para o Brasil somente em 2011. Para completar, na última década o número de usuários da internet cresceu 399%. Mais ferramentas e mais gente na rede, essa é a realidade de hoje quando comparada àquela de 2001. “O desejo de trair já existia, as redes sociais apenas tornam isso mais fácil”, disse à ISTOÉ Rona Subotnik.
Buscar equilíbrio nesse mar de novas informações tem se tornado um grande dilema na era do amor virtual. Para a publicitária paulista Daniela Izidoro, 25 anos, checar o Facebook do atual namorado já é um hábito incorporado à sua rotina. Ela faz isso pelo menos quatro vezes ao dia: ao acordar, na hora do almoço, quando sai do trabalho e à noite, que como ela define, “é quando ‘piriguetes’ atacam”. Essa mesma vigilância a fez descobrir, no ano passado, que um ex a estava traindo – ao encontrar fotos dele com outra no Orkut de um amigo dele. “Já passou pela minha cabeça que poderia ser mais saudável não saber de tanta coisa, mas é melhor passar por isso que todo mundo rir da minha cara e eu nem imaginar o que está acontecendo”, diz. Por trás da preocupação de Daniela se esconde a dor e a vergonha de quem está do outro lado da rede, o traído, que muitas vezes tem de lidar com o incômodo fato de saber que não só ele descobriu a infidelidade do companheiro – mas que ela foi compartilhada para amigos e conhecidos pelas redes sociais.
Tanta vigilância, porém, pode transformar coisas pequenas em grandes problemas. Afinal, alguma demonstração de carinho com a ex-namorada, a proximidade afetiva com a colega de trabalho, tudo isso está ali, na nossa frente, aberto a interpretações. “Ainda é comum a falsa ideia de a pessoa com quem nos relacionamos ser propriedade nossa”, diz Luciana Ruffo, do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). O resultado é que nem sempre essa overdose de informações suscita boas reações no parceiro. Alguns chegam ao extremo de passar a consumir compulsivamente tudo o que está disponível sobre o marido ou namorado na internet – no que ficou popularmente conhecido como comportamento stalker (em inglês, pessoa que segue ilegalmente alguém). Quando isso acontece, por mais que não haja nada errado, tudo parece suspeito. “Tive um ex-namorado que leu todos os arquivos do meu blog e ficava querendo saber se tal história era verdadeira ou o que queria dizer com determinado comentário no Twitter”, conta a escritora gaúcha Clara Averbuck, 32 anos. E qual não foi sua surpresa ao descobrir que tanto controle escondia, na verdade, uma infidelidade. “No final das contas, ele é quem me traía.”
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