Mário Adolfo
O grupo que fincou as cruzes com tabuletas, onde se lia os nomes das pessoas mortas e as datas de seus afogamentos, chamou a atenção dos primeiros frequentadores que chegavam à praia. Para muitos, o “buraco da morte”, como foi batizado pelos populares, não trouxe somente dor, mas também cobriu a Ponta Negra de mistério. O que, afinal, está matando as pessoas?
O secretário do Instituto Municipal de Planejamento Urbano (Implurb), Manoel Ribeiro, da autoridade de ex-prefeito da cidade, afastado por intervenção em 1988, resolveu sintetizar, de forma insensível, o problema.
- Os caras bebem e vão mergulhar. É claro que vão morrer afogados, e a prefeitura não pode ser babá de bêbados - disse, revoltando quem ouviu ou leu a pérola.
Outros procuram uma explicação mais plausível, mas tudo à base do “chutômetro”.
- Dizem que tem uma tubulação, por baixo da praia artificial, feita para drenar a praia, que está sugando as pessoas - tenta explicar Muniz de Souza, que frequenta a praia para cuidar da forma física caminhando diariamente em suas areias. Mas não se pode achar que a explicação de Muniz coloque fim ao mistério do “buraco da morte”.
Para outros frequentadores da Ponta Negra, a Prefeitura de Manaus tentou imitar o que foi feito no Rio de Janeiro, na praia de Copacabana, na década de 1960, e também no aterro do Flamengo.
- Mas lá tem mar, e as ondas, ao invés de levarem, trazem a areia para a praia e acabam, com a força da água, compactando o volume de areia. Já no rio, a coisa é ao contrário. A correnteza que não é forte, mas é constante, arrasta aos poucos o que foi jogado artificialmente, deixando crateras profundas. E aí as pessoas às vezes estão nadando em locais que dá pé e, de repente, caem em buracos profundos. É isso - resume
Edemberg Júnior.
As pessoas que chegam à praia cedo, deitam os olhos sobre as cruzes e param por alguns instantes para ler os nomes das vítimas e conferir as datas em que elas morreram. Algumas se benzem, franzem a testa. Outras se limitam a fazer comentários curtos e continuam sua caminhada em busca do lazer do feriado.
As mortes por afogamento foram debatidas exaustivamente na Câmara. De acordo com a vereadora Socorro Sampaio, presidente da Comissão de Serviços Públicos da Câmara Municipal de Manaus, para conter as mortes será preciso resolver todos os erros que ocorreram nas obras da praia. O Corpo de Bombeiros que também participou da audiência pública, culpa a falta de conscientização dos banhistas, que não respeitam o horário de funcionamento da praia e os limites permitidos. Fonte : Em Tempo
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