A oncocercose causa cegueira em indígenas da etnia yanomami e yekuana, no Amazonas e Roraima
MANAUS - A simples picada de um mosquito pode levar à cegueira irreversível. Nas últimas décadas, seis países enfrentam a proliferação desta doença. No Brasil, o problema atinge áreas indígenas yanomamis e yekuanas nos estados do Amazonas e Roraima.
Popularmente conhecida como “cegueira dos rios” ou “mal do garimpeiro”, a enfermidade chama-se oncocercose. Trata-se de uma doença parasitária, causada pelo verme Onchocerca volvulus, que se aloja no sistema linfático humano após a picada do simulídeo. O mosquito transmissor é conhecido na região amazônica como pium. Em outras regiões do País, é chamado de borrachudo.
Caso o verme se aloje no globo ocular, a cegueira no indivíduo infectado é inevitável. O Onchocerca volvulus destroi os tecidos do visão gradativamente.
A doença passou a ser chamada popularmante de “doença dos rios”, porque o pium, mosquito transmissor, se reproduz nas águas dos rios.
A epidemia da doença começou em 1991, quando os Ministérios da Saúde da Colômbia, Brasil, Venezuela, México, Guatemala e Equador assinaram um tratado para o combate efetivo da doença.
Da iniciativa, resultou o Programa de Eliminação da Oncocercose para as Américas (Oepa). No final de 2011, a organização divulgou as últimas informações sobre a infestação nos países em questão. Os dados constatam a presença de casos de onconcercose apenas na Venezuela e no Brasil, revelando que após 20 anos, entre os 14 focos espalhados pela América Central e do Sul, somente dois países ainda não eliminaram o problema.
Vinda nos navios negreiros
A onconcercose infiltrou-se nas Américas com a chegada dos escravos africanos,
no início do século passado. Dados da Oepa destacam que há, pelo menos,
18 milhões de indivíduos infectados no mundo, a maioria (99%) em países
Africanos. Esta é a segunda doença que mais causa cegueira no mundo,
atrás apenas do glaucoma.
Nas primeiras décadas de proliferação da doença em países africanos,
mais de 50% da população ficava cega antes dos 50 anos, por conta da
infecção. Segundo a OEPA, em gerações passadas as crianças do continente
africano eram educadas a considerar o fato com uma etapa normal do
futuro.
Transmissão
O pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa),
Victor Py-Daniel, se dedica a estudos com a oncocercose desde 1991. De
acordo com o especialista, através da picada do pium, as formas adultas
do verme parasitam o ser humano, alojando-se em nódulos por baixo da
pele. “No local, eles se reproduzem sexualmente. Nos 15 anos que sucedem
a picada, são geradas inúmeras larvas minúsculas, chamadas de
microfilárias, invisíveis a olho nu”, disse.
Por baixo da pele, as microfilárias se espalham pelo corpo humano.
Após aproximadamente um ano, surgem os primeiros sintomas. “O alojamento
debaixo da pele gera nódulos palpáveis, com alguns centímetros de
diâmetro”, explicou o pesquisador.
Py-Daniel chamou a atenção para outros sintomas menos comuns, como
coceiras, o enrugamento da pele, e até casos de febres constantes.
Quando a microfilária se aloja em vasos da retina, os degenera aos
poucos, causando lesões. O globo ocular gradativamente torna-se branco
até a perda total da visão. Segundo o pesquisador, normalmente a doença
atinge pessoas mais velhas, mas casos em crianças e jovens também foram
registrados.
Diagnóstico e Tratamento
Os nódulos de parasitas adultos são identificados por técnicas de
imagiologia (tomografia computadorizada) ou por análise microscópica de
amostra de biópsia. As microfilárias também são detectadas em biópsias
da pele, ou vistas diretamente pela observação do fundo do olho com um
oftalmoscópio.
Feito à base de ivermectina,
o tratamento contra a doença dura 15 anos. A dosagem é única, com
periodicidade semestral ou anual. Py-Daniel explicou que já surgiram
outros remédios para o combate à doença, porém eram muito nocivos à
saúde humana. “A pessoa sentia mais problemas com o remédio do que
apenas com a oncocercose”, frisou.
Conforme o pesquisador, os remédios disponíveis no mercado não matam o
verme adulto. Há medicamentos, em fase experimental, que são efetivos .
“Assim teríamos um tratamento para acabar com a doença e não somente
fazer um controle como acontece hoje”, disse Py-Daniel.
A doença fora das áreas indígenas
No final dos anos 80, havia quase 50 mil garimpeiros em áreas
yanomamis do Amazonas, Roraima e Venezuela. “Durante o Governo Sarney
eles foram tirados da área, pois atuavam de maneira irregular. Na época,
alertamos que quando os garimpeiros fossem retirados, fosse realizado o
exame, pois estavam em áreas endêmicas. Os exames não foram feitos e os
garimpeiros saíram para diversas áreas do Brasil e até mesmo para
outros países da América do Sul, o que ocasionou uma proliferação da
doença, que já foi controlada”, comentou Py-Daniel.
fonte:www.portalamazonia.com.br
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