Para escrever manuais de jornalismo, em pareceria com colegas, tive
que estudar vários códigos de ética brasileiros e estrangeiros. De uma
forma geral tudos condenam o uso da câmera escondida, mesmo sob o
argumento que a reportagem é investigativa.
Clasificam essa ação como uma violação da ética .
Em alguns países é
também ilegal. Escuta telefônica nem pensar. Vejam o caso do tabloide
News of the World, pego com a boca na botija, que fechou. Perdeu a
credibilidade, o leitor deixou de comprar e o dono foi chamado
imediatamente na justiça e corre o risco de ser preso.
É diferente de certos países onde os noticiários são baseados em
reportagens com câmeras escondidas, gravadores ocultos, escutas não
autorizadas pela justiça e por aí vai. Os defensores dessa prática
argumentam que é “jornalismo investigativo”, quando na verdade é o
jornalismo de espetáculo, o shownalismo. A espetacularização da notícia.
Contudo, há casos em que essas práticas são suportadas e contribuem
para esclarecer a população. A reportagem da TV Globo que mostra como
serviços e bens são comprados por um suposto gestor de um hospital
público é um bom exemplo.
A câmera oculta mostrou um desfile de vendedores oferecendo propina
para conseguir o contrato. O preço e a propina flutuavam de empresa para
empresa. Ia de dinheiro a uma dúzia de camisas. As entregas do dinheiro
eram as mais criativas, dentro de caixa de whisky, em shoppings etc.
Duvido que haja algum contribuinte no Brasil que não se revoltou ao
ver como parte do dinheiro que paga de imposto vai parar nos bolsos dos
espertos e a porcaria de serviço e produtos que são comprados.
Diante da clareza da edição da reportagem cada cidadão deve ter se
sentido com um nariz de palhaço em frente da televisão. Foi uma
explicação clara e didática do porque o retorno para o público é tão
ruim.
As mesmas empresas têm inúmeros outros contratos com prefeituras,
governos estaduais, união e empresas privadas. Será que nestas o chefe
de compras também leva algum?
É provável tudo o que foi mostrado não era novidade para nenhum de
nós. Mas as imagens aprofundaram a torpeza dos gestos. Imediatamente
deve ter passado pela cabeça de cada um se todas as compras feitas pela
Prefeitura, Estado ou governo federal são realizadas pelo mesmo método.
No caso da reportagem da TV Globo os valores eram pequenos. Ainda
assim as empresas combinavam para fazer um carroussel de vencedores de
licitações públicas, Uma vez cada uma. Preços e projetos combinados.
Será que o método funciona do mesmo jeito quando vai se comprar uma
plataforam de petróle no valor de bilhões de dólares? Ou uma
hidrelétrica? Ou uma estrada? Ou um estádio para a Copa do Mundo?
Há suspeitas, mas apenas uma repórtagem com câmera escondida poderia
provocar no distinto pagador de imposto o sentimento de indignação,
revolta e cidadania.
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