quinta-feira, 22 de março de 2012

CARROUSSEL DE SAFADEZAS

Para escrever manuais de jornalismo, em pareceria com colegas, tive que estudar vários códigos de ética brasileiros e estrangeiros. De uma forma geral tudos condenam o uso da  câmera escondida, mesmo sob o argumento que a reportagem é investigativa.
Clasificam essa ação como uma violação da ética .

 Em alguns países é também ilegal. Escuta telefônica nem pensar. Vejam o caso do tabloide News of the World, pego com a boca na botija, que fechou. Perdeu a credibilidade, o leitor deixou de comprar e o dono foi chamado imediatamente na justiça e corre o risco de ser preso.

É diferente de certos países onde os noticiários são baseados em reportagens com câmeras escondidas, gravadores ocultos, escutas não autorizadas pela justiça e por aí vai. Os defensores dessa prática argumentam que é “jornalismo investigativo”, quando na verdade é o jornalismo de espetáculo, o shownalismo. A espetacularização da notícia.

Contudo, há casos em que essas práticas são suportadas e contribuem para esclarecer a população. A reportagem da TV Globo que mostra como serviços e bens são comprados por um suposto gestor de um hospital público é um bom exemplo.

A câmera oculta mostrou um desfile de vendedores oferecendo propina para conseguir o contrato. O preço e a propina flutuavam de empresa para empresa. Ia de dinheiro a uma dúzia de camisas. As entregas do dinheiro eram as mais criativas, dentro de caixa de whisky, em shoppings etc.

Duvido que haja algum contribuinte no Brasil que não se revoltou ao ver como parte do dinheiro que paga de imposto vai parar nos bolsos dos espertos e a porcaria de serviço e produtos que são comprados.

Diante da clareza da edição da reportagem cada cidadão deve ter se sentido com um nariz de palhaço em frente da televisão. Foi uma explicação clara e didática do porque o retorno para o público é tão ruim.

As mesmas empresas têm inúmeros outros contratos com prefeituras, governos estaduais, união e empresas privadas. Será que nestas o chefe de compras também leva algum?
É provável tudo o que foi mostrado não era novidade para nenhum de nós. Mas as imagens aprofundaram a torpeza dos gestos. Imediatamente deve ter passado pela cabeça de cada um se todas as compras feitas pela Prefeitura, Estado ou governo federal são realizadas  pelo mesmo método.

No caso da reportagem da TV Globo os valores eram pequenos. Ainda assim as empresas combinavam para fazer um carroussel de vencedores de licitações públicas, Uma vez cada uma. Preços e projetos combinados.

Será que o método funciona do mesmo jeito quando vai se comprar uma plataforam de petróle no valor de bilhões de dólares? Ou uma hidrelétrica? Ou uma estrada? Ou um estádio para a Copa do Mundo?
Há suspeitas, mas apenas uma repórtagem com câmera escondida poderia provocar no distinto pagador de imposto o sentimento de indignação, revolta e cidadania.

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