terça-feira, 13 de março de 2012

Datena no Diário.

 

 

 


Estou voltando a ocupar este espaço aqui no DIÁRIO após um baita tempo e, logo na primeira frase, em vez de começar falando que emendei as merecidas férias com uma “imerecida” recuperação de uma cirurgia, eis que me vem a cabeça um personagem do então humorista, e hoje entrevistador chato de carteirinha, Jô Soares. O tipo era um general que havia entrado em coma no auge da ditadura e que voltava à realidade já nos tempos de abertura, ainda na enfermaria, ligado a uma sonda. O sujeito se espantava com as “novidades” dos novos tempos de liberdade e, chocado, evocava o bordão: “Me tira o tubo, me tira o tubo...”.
Não passei tanto tempo assim longe da coluna, mas o fato é que as greves de policiais militares (e também de bombeiros) na Bahia e depois no Rio de Janeiro me deram vontade de mandar tirar o tubo. Não estou fazendo aqui nenhuma alusão aos anos de chumbo, apenas ao personagem que não entendia as mudanças. Pois o que aconteceu na articulação dos movimentos baiano e fluminense foi uma volta a um tempo execrável, aquela coisa de sindicalismo selvagem, métodos violentos e alianças para lá de suspeitas.
Não quero nem entrar no mérito da legalidade do movimento. A lei diz que a greve fere o regimento que regulamenta a atividade militar. E também que os envolvidos podem responder pelos crimes de motim e insubordinação, o que explica porque invariavelmente os líderes dessas greves pedem sempre anistia.
Por outro lado, ninguém pode achar injustas as reivindicações de quem ganha pouco mais de R$ 1,5 mil, como os PMs da Boa Terra, ou menos de R$ 1,2 mil, como os policiais do Rio. É uma miséria lascada para quem arrisca a vida todos os dias para defender a sociedade: eu, você, nosso vizinho, gente boa e até gente nem tão boa assim. O que não pode é existir espaço para um líder de categoria como esse ex-PM baiano que, sabe-se lá por que, comandava a associação de policiais militares e bombeiros e foi flagrado incitando ações violentas de vandalismo.
O mesmo a gente pode falar desse outro “líder”, também surpreendido numa gravação articulando a inviabilidade dos Carnavais do Rio e da Bahia (vejam bem: simplesmente os dois maiores Carnavais do país do Carnaval).  E o pior é que do outro da linha, botando lenha no fogueira, estava um ex-governador de estado, um velhinho da política rasteira, mais interessado nas eleições deste ano do que na Folia de Momo ou nos salários dos policiais.
Resumo da ópera: um rastilho foi aceso com um fogo de interesses bem maiores e mais perigosos do que o bem estar de uma categoria não apenas mal paga, mas sobretudo desvalorizada pelas mesmas autoridades e políticos que costumam aumentar os próprios salários em canetadas noturnas. Me ajuda aí.
Um avanço
Não há como não comemorar a recente mudança na Lei Maria da Penha aprovada esta semana pelo STF. A decisão que permite ações contra os agressores mesmo sem a representação da vítima é um avanço que eu, particularmente, entendia necessária há mais tempo do que gostaria. Me orgulho de ter como bandeira, seja no “Brasil Urgente”, na TV , no “Manhã Bandeirantes”, na rádio (ambas do grupo Bandeirantes), ou aqui neste nosso querido DIÁRIO, a defesa da mulher.
Afinal, como bem disse a ministra Rosa Weber no seu parecer, “a defesa da mulher é um interesse de toda a sociedade e não pode depender exclusivamente da manifestação da vítima”. O que me deixa mais feliz, e, acredito, também a esmagadora maioria dos brasileiros, é que o mais importante e representativo Tribunal do país soube ouvir a voz da sociedade, dando uma resposta a uma triste realidade que é a escalada da violência contra a mulher. Isso já tinha acontecido com a Lei Seca que, a exemplo da Maria da Penha, vinha perdendo eficácia e sendo cada vez mais desafiada.
Tomara que sejam sinais de mais mudanças importantes, como por exemplo, a atualização do nosso Código Penal. Nesse caso, voltando ao personagem do Jô, eu digo: “ Põe o tubo!”.

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