Li, com muita atenção, os comentários
nas redes sociais sobre o depoimento dado por Xuxa ontem ao Fantástico.
Houve, na verdade, dois depoimentos: o primeiro, sobre sua vida afetiva,
teve os capítulos Pelé e Senna, mas, de fato, faltou falar do pai de
sua filha. Em ‘O que vi da vida’, nome do quadro do programa, talvez
essa ausência tenha falado mais alto do que se Xuxa houvesse citado
Luciano Szafir.
O segundo depoimento, esse sim, fez o
Brasil saltar da cadeira, seja para postar desaforos seja para
demonstrar emoção ante a revelação perturbadora, a de que ela foi
constantemente abusada em sua adolescência. Xuxa, o ícone da infância, a
babá eletrônica de toda uma geração — a minha incluída —, confessou ter
sido vítima do mais covarde dos crimes, que destrói os anos mais puros e
lúdicos de um ser humano, marcando-o para todo sempre.
A luta contra o abuso infantil é
inglória; é o tipo de assunto que todo mundo quer jogar para debaixo do
tapete e que ocorre com uma constância impressionante. Os números
alarmantes – 52 mil denúncias no Disque 100, mantido pela Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, entre 2003 e março de 2011
— não chegam aos pés da realidade. A maioria das crianças abusadas pelo
pai (38% dos casos), pelo padrasto (29%), pelo tio, pelos vizinhos e
por desconhecidos tem medo de denunciá-los e, quando o fazem, a família
prefere abafar o escândalo — ou até mesmo é conivente com a situação.
(Época/Bruno Astuto)
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