terça-feira, 22 de maio de 2012

SOBRE O DEPOIMENTO DE XUXA

Li, com muita atenção, os comentários nas redes sociais sobre o depoimento dado por Xuxa ontem ao Fantástico. Houve, na verdade, dois depoimentos: o primeiro, sobre sua vida afetiva, teve os capítulos Pelé e Senna, mas, de fato, faltou falar do pai de sua filha. Em ‘O que vi da vida’, nome do quadro do programa, talvez essa ausência tenha falado mais alto do que se Xuxa houvesse citado Luciano Szafir.
O segundo depoimento, esse sim, fez o Brasil saltar da cadeira, seja para postar desaforos seja para demonstrar emoção ante a revelação perturbadora, a de que ela foi constantemente abusada em sua adolescência. Xuxa, o ícone da infância, a babá eletrônica de toda uma geração — a minha incluída —, confessou ter sido vítima do mais covarde dos crimes, que destrói os anos mais puros e lúdicos de um ser humano, marcando-o para todo sempre.
A luta contra o abuso infantil é inglória; é o tipo de assunto que todo mundo quer jogar para debaixo do tapete e que ocorre com uma constância impressionante. Os números alarmantes – 52 mil denúncias no Disque 100, mantido pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, entre 2003 e março de 2011 — não chegam aos pés da realidade. A maioria das crianças abusadas pelo pai (38% dos casos), pelo padrasto (29%), pelo tio, pelos vizinhos e por desconhecidos tem medo de denunciá-los e, quando o fazem, a família prefere abafar o escândalo — ou até mesmo é conivente com a situação. (Época/Bruno Astuto)

Nenhum comentário:

Postar um comentário